"Justiceiros" agridem travesti no Largo do Arouche (Vídeo)
O fato ocorreu na madrugada deste domingo (04/10) no Largo do Arouche, ao Centro de São Paulo. Estávamos meus amigos e eu reunidos no Arouche conversando e utilizando ao espaço público para lazer, quando percebi um grupo de travestis correndo no meio da praça. Decidi olhar em direção ao local de origem da correria, quando percebi que havia dois homens e uma mulher [foto abaixo] agredindo violentamente com socos e chutes a uma mulher no chão, quando fui me aproximado do local, um grupo de pessoas que estavam próximos, saíram em disparada fugindo dizendo que um dos homens [foto abaixo] havia sacado uma arma e apontado para as pessoas que estavam por perto.
De imediato corri até uma base da Polícia Militar de São Paulo [@PMESP] localizada na Praça, e falei com um dos policiais lotados naquele momento [04hr15min] que fossem até o local da agressão, quando este policial [foto ao lado] me disse claramente que "estes viados bandidos tem que apanhar mesmo", foi quando
descobri que o policial já sabia do fato ocorrido que a agredida era uma travesti, que foi chamada de “viado bandido” pelo policial. Insisti para que o policial fosse até o local para garantir o fim das agressões, e ele disse que não iria sair dali, mas que já havia solicitado uma viatura de apoio.
Com a chegada da viatura no local, populares e eu nos aproximamos dos envolvidos, e encontramos os dois homens e a mulher justificando aos policiais que as violentas agressões contra a travesti [que não teve a identidade revelada pela PM] era porque a mesma havia os roubado. No chão, com o rosto bastante machucado e imobilizada, a travesti esbravejava "eu não roubei ninguém, eu não roubei ninguém!".
Em seguida, chegaram mais viaturas com homens da PM e trataram de averiguar ao caso. Aproximando-me dos PM's, me identifiquei como jornalista e como ativista de direitos humanos, para tentar obter alguma informação dos policiais, que se recusaram a falar, foi quando me dirigi à suposta vítima de roubou, e o homem [que não quis se identificar] agiu de forma grosseira e não quis falar comigo para relatar o fato.
Questionando populares no local [que gritavam a inocência da travesti], um senhor [que preferiu não se identificar, por medo de represália] me disse que "este cara já fez isto com outra travesti há dias atrás, o mesmo que ele está fazendo agora com esta travesti. Eu me lembro da cara e do carro dele, foi ele, eu tenho certeza! Ele com outro cara bateram em uma outra travesti, entraram no carro e saíram em disparada", relatou o homem.
Em dado momento [entre os 02min15seg e 02min10seg do vídeo abaixo] a travesti gritou "tá vendo, eu não peguei nada dele", foi quando o justiceiro gritou "fica no chão, você pegou sim, você vai ficar preso mano", neste momento eu interrompi o homem para que respeitasse à identidade de gênero da travesti, tratando-a no feminino, foi quando o homem se dirigiu a mim e mandou eu me calar e deferiu palavras de baixo calão contra mim. Ao fim da diligência policial, a travesti e as supostas vítimas foram colocadas em viaturas diferentes, quando novamente intervi diretamente com o sargento do grupo, para que levasse para a delegacia uma testemunha a favor da travesti; de imediato, um homem [também não identificado] se prontificou a ir junto [na viatura] ao 2º DP`no Bom Retiro [Centro de São Paulo] para testemunhar diante do delegado, e assim, saíram todos do local nas viaturas da Polícia Militar rumo à Delegacia.
Assistam abaixo ao vídeo relatando o acontecido, já com as viaturas da polícia no local:
Às 05hr40min, procurei ao responsável pela Coordenação Municipal de Políticas LGBT da Prefeitura de São Paulo [Alessandro Melchior] para relatar o caso, e solicitar o acompanhamento deste caso por parte de uma advogada do Centro de Cidadania LGBT, mas por conta do horário, até o fechamento desta matéria, não obtive retorno do coordenador.
TODOS OS DIREITOS E CRÉDITOS DE IMAGENS, VÍDEO E TEXTO: HELCIO BEUCLAIR